Walter Mischel

Walter Mischel

(In memorian)

Por Roberta Gurgel Azzi

Dados biográficos

Walter Mischel nasceu em 22 de fevereiro de 1930, em Viena, Áustria. Filho de Lola Leah Mischel e Salomon Mischel, ele tinha apenas um irmão, Theodore. Sua família, fugindo das perseguições de Adolph Hitler, migrou para os EUA e se instalou em Nova York no ano de 1940, por conta de cidadania prévia do avô materno, que havia trabalhado e obtido cidadania por volta de 1900.

Mischel veio a falecer em 12 de setembro de 2018, em Nova York. Sua morte foi publicada em muitos veículos de comunicação. No Brasil, os jornais Folha de S. Paulo e O Globo e a revista Veja foram periódicos que noticiaram[1] seu falecimento.

Formação educacional

Mischel cursou Psicologia na New York University, tendo concluído o curso em 1951, e o mestrado em Psicologia Clínica no College of City of New York, em 1953. Concluiu seu doutorado em 1956, no Programa de Psicologia Clínica da Ohio State University, onde foi aluno de Julian Rotter e George Kelly, tendo sido influenciado pelas ideias de ambos, o que não era esperado, já que o comum era os estudantes se aliarem às ideias de um ou outro entre os dois professores (Mischel, 2007).

Trajetória profissional

Segundo capítulo autobiográfico publicado em 2007 (Mischel, 2007), sua trajetória profissional inclui os seguintes períodos em instituições universitárias: University of Colorado (1956-1958), Harvard University (1958-1962), Stanford University (1962-1982) e Columbia University (1983-2018). Em Stanford e Columbia, ele foi chefe de departamento. Ao longo de sua carreira, Mischel recebeu vários prêmios e distinções.

Considerações sobre um ou mais aspectos da trajetória

Ao ouvirmos palestras e entrevistas de Mischel, logo percebemos tratar-se de uma pessoa simpática e empática, cujos conhecimentos são partilhados com segurança e convite à reflexão. Pessoas que com ele conviveram e registraram depoimento sobre essa convivência revelam ter sido ele uma pessoa muito querida, referenciada e respeitada.

A lista de artigos, livros e capítulos por ele escritos, sozinho ou em parceria, é longa e repleta de colaboradores como Özlem Ayduk, Rodolfo Mendoza-Denton, Philip K. Peake, Jack C. Wright, Nancy Cantor, entre outros. O principal parceiro de Mischel, entretanto, foi Yiru Shoda, com o qual teve uma longa e produtiva trajetória de colaboração, com mais de 40 trabalhos, incluindo o artigo clássico de 1995 (Mischel; Shoda, 1995), que revisitou o sistema cognitivo afetivo da pessoalidade inicialmente descrito em artigo de Mischel (1973). Em 1968, Mischel publicou Personality and Assessment, livro que causou muita controvérsia no campo da personalidade e cujos resultados e considerações desdobraram-se em outras investigações e ênfase na pessoa em contexto. Em 2009, Mischel publicou um artigo no qual descreveu o contexto em que o citado livro foi escrito, por que o escreveu e os principais desafios e questões para o campo da personalidade desde então.

Seu livro O teste do marshmallow, única obra dele publicada em português, em 2016, apresenta uma escrita convidativa à leitura, mesmo para o leitor menos iniciado na evolução do seu trabalho. Sobre o título do livro, vale um destaque encontrado na página 21. O teste do marshmallow não era teste, era estratégia de pesquisa. Mischel assim descreve a concepção do teste: “Meus alunos e eu imaginamos o procedimento não para avaliar o desempenho das crianças, mas sim para analisar o que lhes possibilitava retardar a satisfação, se e quando quisessem” (Mischel, 2016, p. 21), ou seja, o autocontrole foi o tema de estudo que se utilizou do teste do marshmallow como estratégia para entender o processo psicológico do autocontrole. A leitura do livro certamente oferece uma riqueza interessante de considerações e exemplos que nos levam a compreender a visão dele sobre autocontrole.

Há muito mais a ser conhecido a respeito de Mischel e de sua contribuição para a personalidade na visão sociocognitiva. O que foi aqui mencionado é um pequeno recorte que pretende servir como um convite a conhecer mais sobre esse importante psicólogo.

Para conhecer mais

Há várias informações sobre Mischel e suas pesquisas disponíveis na internet. A seguir estão alguns links.

Inside the Psychologist’s Studio with Walter Mischel: https://www.youtube.com/watch?v=Wk-5S5vxTp4&t=1598s.

The Marshmallow Test: Mastering Self-Control: https://www.youtube.com/watch?v=PCwlYU-y8Dk&t=1006s.

RSA Replay: What Marshmallows Can Tell Us About Self-Control: https://www.youtube.com/watch?v=Cub3mjum_cE.

2014 Tanner Lecture on Human Values – Walter Mischel – 04/09/14: https://www.youtube.com/watch?v=VhQq4L2_a4o&t=1024s.

Referências

Mischel, W. (1973). Toward a cognitive social learning reconceptualization of personality. Psychological Review, 80, 252-283.

Mischel, W. (2009). From Personality and Assessment (1968) to Personality Science, 2009. Journal of Research in Personality (Special Issue: Personality and Assessment 40 years later), 43, 282-290.

Mischel, W. (2007) Walter Mischel. Em Lindzey, G., & Runyan, W. M. (Eds.). (2007). A history of psychology in autobiography, Vol. 9. Chapter 7, p. 229-267. American Psychological Association. 

Mischel, W. (2016). O teste do Marshmallow. Por que a força de vontade é a chave do sucesso. Editora Objetiva. 234p.

Mischel, W. & Shoda, Y. (1995). A cognitive-affective system theory of personality: Reconceptualizing situations, dispositions, dynamics, and invariance in personality structure. Psychological Review, 102, 246-268.


[1] https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/09/morre-o-psicologo-walter-mischel-criador-do-experimento-do-marshmallow.shtml e https://oglobo.globo.com/brasil/morre-psicologo-walter-mischel-criador-do-teste-de-marshmallow-23072415

https://veja.abril.com.br/revista-veja/as-criancas-e-o-marshmallow#google_vignette.